10:50 PM Comment0 Comments

Acompanhando as últimas notícias divulgadas na mídia a respeito da saúde do Gianecchini começo a me questionar sobre as surpresas da vida. Como se sentir diante do imenso ponto de interrogação que é viver? Hoje estamos bem, amanhã, enfrentando problemas que não passariam por nossa cabeça nem no pior dos pesadelos. Prioridades mudando, o que antes era sólido sendo posto a prova, milhares de incertezas. Conflitos, internos e externos, se tornando inevitáveis. Onde encontrar forças para lutar? É preciso apoio, muito apoio. Estar cercado de gente que entenda as inseguranças que teimam em aparecer quando estamos vulneráveis.

Um dos problemas que mais desestabilizam são as doenças. Elas debilitam não só o corpo, mas a mente. Nunca passei por nada grave, mas observo o sofrimento resultante dessas passagens dramáticas. Todos ao redor são mobilizados, a rotina é alterada, o estresse é visível. Estar em hospitais e a mercê de médicos causa muita tensão. Os efeitos colaterais dos remédios, quase sempre entre os bônus de um tratamento, multiplicam as inquietações. O tempo parece não passar, meses se tornam anos. Esses períodos costumam vir embutidos de muitos aprendizados; lições que, de fato, significariam muito tempo de vivência.

Nem sempre são doenças que servem como experiências impactantes na vida de alguém. Separações, perdas, mudanças em geral, tudo que gere choque pode ser encarado como fonte de reflexão acerca dos imprevistos que compõem o grande mistério da nossa existência. Diante de todo sofrimento, pode-se considerar o otimismo como peça importante para superar obstáculos, já que em situações de revés, enxergar de forma positiva os objetivos é essencial para voltar ao eixo. A idéia que permanece a partir dessas considerações é a de que a força capaz de derivar das dificuldades, além de contribuir para nossa evolução, é fator determinante para escolhas futuras.

11:28 PM Comment0 Comments

Andei pensando recentemente sobre as razões que levam pessoas a escrever, seja como profissão ou como hobby, e fiquei instigado a me aprofundar nesses motivos. Aqueles que escrevem como profissão talvez aceitem a arte da escrita ou como uma forma de compartilhar conhecimentos específicos, no caso de intelectuais, pesquisadores e acadêmicos; ou como forma de divulgar informações, acontecimentos e eventos, no caso dos profissionais da comunicação. Há ainda os que sobrevivem de contar histórias, escrevendo contos, livros, roteiros de filmes e novelas. Por esses eu tenho uma admiração intrigante, já que esse tipo de expressão pode ser encarado como uma maneira de falar sobre si mesmo. Um jeito biográfico, muitas vezes indireto, de se colocar no papel, uma vez que o que você inventa surge do que você vê, do que você vive, do que você pensa.

Os que escrevem como hobby estão no centro de uma discussão mais complexa. Na maioria dos casos, procuram um modo de transbordar as idéias que fluem e ultrapassam os limites da mente. Claro, existem outros motivos que levam pessoas a escrever. Os diários, por exemplo, atuam como terapia, contendo lembranças do dia, de situações e dilemas. É uma análise de comportamento, um aprofundamento da vida, um debate consigo mesmo. Antigamente eram privados, envolviam o mais secreto de cada um; hoje em dia com a tecnologia e a virtualidade, estão mais ligados a exposição e a interação, já que o alcance das palavras se tornou grande.

A imagem que permanece é a da escrita como sendo um gênero muito distinto, que encanta, fascina e não encontra barreiras, se deixarmos de lado a questão delicada que é a educação em nosso país. Para mim, escrever é um exercício, um desabafo. Como sou inquieto, a todo instante sou invadido por turbilhões de emoções e sensações. Passar isso para o papel ou para o computador é um jeito de aliviar a carga que atrapalha, às vezes, o andamento das coisas. Engraçado é que quando escrevo e tempos depois leio o resultado de minhas reflexões, acho as idéias absurdas e fico me perguntando como pude escrever tal coisa ou ter tal opinião. Quem sabe não sejam os efeitos das metamorfoses frequentes de conceitos.

Ela

5:25 PM Comment0 Comments

Ela estava entediada do apartamento que um dia fora um sonho de consumo. Seu marido encontrava-se resolvendo problemas da firma e seu filho tendo um dia magnífico no colégio. Pelo menos era o que ela achava ou gostaria que estivesse acontecendo. Nada fazia sentido, nada tinha significado, mas a vida corria e depois de tanto desejar, batalhar, sofrer e chorar, era hora de descansar ou então de agir mais um pouco. Mas agir de que jeito? O que alguém que tem tudo pode fazer da vida? Talvez compras, talvez viagens. Mesmo com todas as possibilidades, nada poderia preencher de verdade o vazio. Um vazio abstrato, um vazio real.

Mais um dia estava se acabando e ela continuava a se questionar. Questionava-se sobre as pessoas, questionava-se sobre o dinheiro. Era alguém, uma pessoa bastante influente da alta sociedade, se é que isso ainda existe. Sabia de moda, de etiqueta, de receitas. Iria completar 25 anos de casamento e seu filho parecia estar encaminhado para uma boa faculdade. Tinha uma equipe de funcionários para lhe servir e podia ver o mar de todos os cômodos de sua cobertura. Tudo era perfeito, com o que se incomodar?

O jantar já estava sendo servido e ninguém em casa para acompanhá-la. O salmão com molho de maracujá parecia estar divino, mas nem o paladar conseguia desviar os pensamentos. Seria melhor morrer do que viver daquele jeito. Sabia que seu filho estava vagando por aí atrás de drogas e que seu marido estava procurando garotos de programa para curtir o início do fim de semana. O que fazer? Dividir suas angústias com as outras pessoas? Não, seria muita exposição. Recorrer à família? Seria a pior escolha, pois cortara relações com todos, achando que só estavam de olho em sua posição de destaque.

Sentia-se num beco sem saída e via que os pensamentos não paravam de chegar. Meu filho, meu marido, minha casa, minhas angústias, minha solidão. Alguma atitude ela tinha que tomar, pelo menos, para poder pensar em outras coisas. Algum possível passatempo. Pintura? Artesanato? Bordado? Não, sua paciência era curta demais e não tolerava a idéia de poder errar e colocar toda uma obra a perder. Livros? Talvez, mas a maioria deles falava de temas que não lhe despertava interesse. Música? Boa idéia, procurar CDs poderia ser algo interessante, além de dar um pouco de vida ao lugar onde o silêncio pairava desde cedo.

Sua coleção continha, em geral, discos clássicos de Jazz, mas também tinha espaço para a modernidade e os sons do Brasil. De Miles Davis até a música inspiradora de Marisa Monte, eram diversos os álbuns que tocavam nas festas. Até algum tempo atrás, seu marido fazia questão de não se render a tecnologia e continuar com o vinil, mas depois de ter que esperar muito para encontrar raridades, decidiu entrar no universo digital e contratou um rapaz para atualizar seu catálogo inteiro. Foi um longo processo. Agora, ela estava revirando tudo aquilo atrás de algo que a fizesse sentir confortável. Nada.

Decidiu ir para o quarto e se deitar. O sono era o seu único refúgio naquele momento. Quem sabe um novo dia não chegasse trazendo alguma idéia inspiradora. Quem sabe.