7:20 PM Comment0 Comments

Acordava tarde e pensava em sua rotina. Era tudo muito agitado, tudo muito saboroso. Tinha vivido aventuras que eram suficientes para a vida inteira de uma pessoa normal, daquelas que se encontram em qualquer esquina da cidade. Não era rico, nem pobre, apenas sabia como administrar a grana que ganhava. Também não possuía beleza do tipo “capa de revista”, apenas utilizava-se do charme para conseguir o que queria.

Jogava o jogo e rolava os dados, que sempre davam números altos, por isso, era acostumado a andar muitos passos no tabuleiro do destino. Seu rosto não trazia marcas do passado e nada do que pensava se estampava em sua face através de expressões. Seguia festejando e brindando, mesmo não sabendo a que festejar e brindar. Fazia moda e se vestia de acordo com o que sentia: usando cores sóbrias ou berrantes, mas nunca destoando do evento.

De dia, seu olhar era escondido por óculos escuros, de noite, seus lábios eram encobertos por outros que os tocavam. Não existiam compromissos, não existiam obrigações. Amigos e amores eram abundantes. Nada sabia sobre sua família, na verdade, nada sabia sobre ninguém, já que seus relacionamentos eram superficiais, mas ainda assim, suficientes para marcar a vida de quem compartilhasse algo especial com ele. Ao mesmo tempo em que poderia dominar qualquer situação, era dominado pelas circunstâncias externas e constantemente pesava o que traria mais benefícios.

Estudo, não era necessário. Seus conhecimentos tinham sido adquiridos naturalmente e se pudesse dividi-los com outras pessoas, seria muito bem remunerado. Viver era uma arte e, de vez em quando, visando aperfeiçoar seus “dons artísticos”, era imprescindível um balanço geral de todas as perdas e ganhos dos últimos tempos, para determinar aquilo que valia ou não à pena repetir. No final, o saldo, em sua maioria, era sempre positivo.

Refletindo e analisando todas as vivências do passado, ele se imaginava numa vida mais simples e adequada à realidade. A cada minuto, ia se convencendo de que seus pensamentos tinham tomado uma dimensão maior do que deveria e sentiu um desejo inconsciente de se libertar da prisão que havia construído. Percebeu, então, os mecanismos que vivia utilizando para não ser conhecido profundamente por ninguém.